quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
A doença do amor
O amor, antes de tudo, é espiritual. Deus é amor, e nossa relação com ele só pode estar baseada na espiritualidade. O amor também é natural ao ser humano, ou seja, ele nasceu para amar e ser amado. O grande problema é que, por causa do pecado original, nossa forma de amar se tornou doentia.
Nesse sentido, podemos dizer que grande é o número de pessoas que amam de forma deficiente. Uns mais, outros menos; outros de forma heterogênea, outros de forma homogênea. Não necessariamente cedemos à doença, mas a temos em nós, ainda que latente. É claro que existe uma cura para este mal. A nossa luta nesta vida está justamente em encontrarmos esse antídoto, e de uma vez por todas, amarmos verdadeiramente.
A doença tem um nome: “doença do senhor e do escravo”. Aquele que sente prazer em ser senhor é o que se assume como “dono” do outro. Ele é o responsável por cuidar, mas também por controlar. Ele exerce, no relacionamento, uma prática ativa; é o senhor, na relação, que toma as iniciativas para com a outra pessoa. Enfim, existe uma situação de possessividade. O escravo, por sua vez, é a pessoa que se compraz em ser “objeto”. Na verdade, é o contrário do senhor; ele se deixa ser controlado, se deixa ser cuidado. Assume, portanto, uma posição passiva. Tudo isso se aplica, também, à sexualidade, mas não é esse o alvo em questão. Estamos falando de afetividade.
E o que tem a ver o pecado original com essa doença? É que o pecado original nos leva a essas duas situações, que podem ser entendidas da seguinte maneira: o senhor, amando de forma doentia, é aquele que brinca de ser o “deus criador”; já o escravo, também amando de forma inadequada, brinca de ser o “deus adorado”. Os dois se portam como deuses. E aí está o pecado original: “...sereis como deuses.” (Gênesis 3,5)
O problema é que o pecado traz prazer. Evidentemente que um prazer momentâneo e condenado, pois é fruto do erro, e tende a gerar mais erro. O ser humano gosta de sentir que tem o poder, por isso procura controlar as pessoas no seu relacionamento afetivo. Também é prazeroso se sentir adorado, por isso se porta como objeto de desejo.
Diante desta problemática, a solução está em desfazer o elo entre o senhor e o escravo, ou seja, entre o que age como deus criador e o que prefere ser o deus adorado. Percebem como existe um erro de posição, em ambos os casos? As pessoas, na sua forma doentia de amar, se colocam no lugar de Deus.
Logo, a solução, ao mesmo tempo simples, mas de difícil aplicação, é por Deus no seu devido lugar, ou seja, abandonarmos a posição de senhor do outro ou de objeto de adoração, de desejo, e voltarmos nossa atenção para Aquele que de fato deve ser adorado e tido como nosso dono.
Por fim, para atingir esse patamar e perceber que a cura dessa patologia é alcançável, basta ser humilde, buscando a Deus de todo o coração e sendo sempre o menor. E isso também vale para a relação com as pessoas.
(Renato Rosa)
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